Venho
através dessa, esclarecer algumas dúvidas que me parecem bem claras num texto
que li e que foi escrito por V.S.
Antes de
ler vosso texto fui direto me certificar quem havia escrito.
Quando
verifiquei a assinatura do texto e, constatando que vinha de um Professor,
confesso que fiquei meio chocado com vossas palavras, pois este texto ao qual
me refiro não tem muito nexo em vários quesitos. Como tudo que se escreve, gera
o direito de resposta, resolvi me atrever a escrever algumas palavras. Bom...
Vamos ao que interessa.
Conforme
não é de vosso conhecimento, a “Arte” é uma forma de expressão livre e não
generaliza nem desumaniza como está bem especificado no texto em questão.
A música
“Eu sou bagual”, em primeiro lugar, não é de autoria do Sr Joca Martins. Acho
isso o primeiro erro grave em vosso texto, que para começo de conversa deveria
ser feita uma pesquisa sobre a autoria, para não ser cometida nenhuma
injustiça. A composição é de autoria de Fernando Soares e Juliano Gomes, ambos
de Santana do Livramento e foi feita sem a mínima intenção de ferir os
princípios éticos, tanto dos moradores da cidade quanto os dos arrabaldes ou
das estâncias. Esta composição foi feita por duas pessoas oriundas da fronteira
do Rio Grande do Sul com o Uruguay, portanto não tem a mesma conotação de uma
feita na região sul do nosso Estado (em vosso texto há outro erro gravíssimo
onde V.S. coloca “estado” e é sabido desde os tempos de primário que quando nos
referimos às Unidades Federativas, devemos escrever Estado com o “e” em sua
forma maiúscula) principalmente pela forma de se falar e entender assuntos
relativos ao campo.
Notei
também que em vossa descrição sobre a palavra “Bagual”, foi feita uma pesquisa
somente no dicionário informal onde só tem os significados pertinentes ao vosso
texto. Cada um usa o significado que lhe é pertinente e na música, o termo
bagual foi usado com o significado de forte, do campo, rude, bravio. Isso tudo
consta no Dicionário de regionalismos do Rio Grande do Sul, de Zeno Cardoso
Nunes e Rui Cardoso Nunes e, pelo menos na nossa “Fronteira” o termo Bagual é
tratado assim e não como grotesco ou um bicho estúpido.
Outro
ponto que achei interessante em vosso texto foi o descaso com o “gauchismo”,
termo que orgulha muita gente aqui no nosso Estado. Algumas áreas da sociedade
insistem em não enxergar o gaúcho (aquele que cultua suas tradições, freqüenta
os galpões, desfila no 20 de setembro, etc) que é, sim, uma boa parte da
população gaúcha. É conveniente citar que essa composição não é direcionada a
determinadas classes sociais ou certos setores da nossa economia e sim àquelas
pessoas que simpatizam com uma música alegre. Para esse caso, ouve quem quer e
gosta. Música não é feita para agradar todo mundo.
Quanto à
questão de ter nascido na cidade, em um hospital ou, seja lá onde for, é um
trecho de vosso texto que não precisaria ser escrito, se fosse de vosso
conhecimento a autoria da composição, porque tanto o Fernando como eu
conhecemos as lidas do campo e é sabido por todos que não precisa morar no
campo para escrever sobre ele. É só questão de conhecimento.
Na parte
do texto em que está explícita uma indignação com as entidades
tradicionalistas, prefiro não me meter, mas acho também que isso não precisaria
constar em vosso texto, porque não somos filiados a nenhuma delas e não
respondemos por seus atos. Outra coisa a ser esclarecida é que estas entidades
não deveriam criticar a música. Isto é assunto para entendedor de música. Creio
que V.S. não é formado em música, não é? Acho que, mesmo que fosse, seria muito
ético de vossa parte deixar que se faça arte livremente. Como eu costumo
dizer... Se não sei, prefiro ficar quieto.
Resumindo,
acho válida toda essa manifestação feita por V.S., se foi com a intenção de uma
crítica construtiva. Porém muito mal expressada, pois na questão da
representatividade, ninguém quer representar ninguém e sim fazer música. Aos
descontentes com isso, nossas humildes desculpas, sem querer ofender ninguém.
Porto
Alegre, 09 de maio de 2013.
Juliano
Gomes
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